Recomendações para os procedimentos neurocirúrgicos pediátricos durante a pandemia da COVID-19
Sociedade Brasileira de Neurocirurgia
Departamento de Pediatria
Os procedimentos neurocirúrgicos pediátricos correspondem, de uma forma geral, a cerca de 10 a 20% do total de neurocirurgias realizadas. As patologias mais frequentes são: hidrocefalia, trauma, anomalias craniofaciais, defeitos congênitos da coluna vertebral, infecções do SNC, tumores cerebrais e da coluna vertebral, hemorragias e alterações vasculares, tratamento cirúrgico da epilepsia, espasticidade, distúrbios funcionais, além de outras condições mais raras.
A prática de neurocirurgia pediátrica difere da adulta por tratar de crianças em vários estágios de desenvolvimento físico e psicológico e por contemplar doenças inexistentes em outras áreas. A orientação é que as cirurgias de urgência devem continuar a serem realizadas, apesar da disponibilidade reduzida de recursos e equipe durante a pandemia de Covid-19. A principal consideração é a proteção da equipe cirúrgica contra infecções e a padronização de condutas para o gerenciamento dos casos cirúrgicos.
O Departamento de Pediatria da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBNPed) recomenda que todas as cirurgias eletivas, não essenciais sejam adiadas durante o surto de novo coronavírus (COVID-19), individualizando cada caso. Os fatores que devem ser levados em consideração para o adiamento dos procedimentos eletivos são: o risco de infecção do paciente, a disponibilidade de leitos e ventiladores, a equipe e o EPI e a urgência do procedimento.
Este documento visa auxiliar especialistas na área de neurocirurgia pediátrica assim como gestores na área da saúde a definir e priorizar a atuação da neurocirurgia pediátrica.
Cirurgias Emergenciais:
– Derivação ventricular externa (DVE), inserção, remoção ou revisão de derivações liquóricas
– Craniotomia ou trepanação para tratamento de emergência de empiema subdural ou abscesso
– Hematoma subdural, extradural ou intraparenquimatoso, afundamento craniano (aberto)
-Reparo pós-natal de mielomeningocele
Craniotomia para hematomas em malformações arteriovenosas, aneurismas, cavernomas e Moya Moya
Cirurgias de Urgência:
– Encefaloceles (exposição parênquima cerebral, fistula liquórica)
-Lesões compatíveis com epilepsia catastrófica da infância (sem controle medicamentoso / Estado de mal epiléptico)
– Cistos raquimedulares sintomáticos
– Hemorragias intracranianas secundária a aneurisma roto e/ou MAV – sem hematomas volumosos – considerar embolização
– DVP, Terceira ventriculostomia endoscópica / fenestraçõs cistos
– Trepanação para hematoma subdural crônico
– Craniotomia para tumores em geral e biopsias (malignos e benignos)
– Ressecção de lesões raquianas (intradural, extradural e intramedular)
– Sutura primária nervos periféricos (lesões agudas)
– Trauma, infecção ou tumor da coluna vertebral – descompressão anterior ou posterior com ou sem instrumentação
– Afundamento craniano fechado
Eletivas
– Cranioplastia, avanços e distrações craniofaciais
– Craniossinostoses
– Hemisferotomia ou hemisferectomia, calosotomia, estimulação cerebral profunda e outros dispositivos de estimulação, ressecção focal e lesionectomia, ressecção temporal e extratemporal (frontal, parietal e occipital), terapia intersticial a laser (LITT), transecções subpiais múltiplas, implantes com dispositivos de neuroestimulação, neuroestimulação responsiva (rns), radiocirurgia estereotáxica, implante de estimulação do nervo vago (VNS)
-Estimulação cerebral profunda, dispositivos intratecais – implantação de bomba de baclofeno ou outras medicações, rizotomia dorsal seletiva
– Recidivas tumorais estáveis
– Craniotomia para cavernomas (sem evidência de hemorragia)
– Cirurgia endonasal
– Radiocirurgia
– Lesões do plexo braquial
– Disrafismo Espinhal fechado (lipomas, seio dérmico, diastematomielia, medula presa, cistos)
-Microdiscectomia cervical, lombar ou dorsal com ou sem instrumentação, descompressão com ou sem instrumentação da coluna cervical, dorsal ou lombar, descompressão e derivação em siringomielia. Sem déficit progressivo ou grave.
– Síndromes compressivas (túnel do carpo e cubital
– Aneurismas não rotos, MAV, cavernoma
– Doença de Moyamoya
– Cirurgia para Chiari I, sub-luxação atlantoaxial (correção do alinhamento C1-C2 e fixação com fusão) – paciente assintomático/oligosintomático
– Troca de bateria do estimulador de nervo vago (VNS) ou de estimulador cerebral, troca de medicação em bomba
– Encefalocele (sem fistula liquórica / cobertura cutânea)
Esta não é uma lista definitiva, e casos especiais podem ser discutidos pela equipe cirúrgica, anestésica em conjunto com a coordenação hospitalar.
COVID-19 representa um desafio para a prática neurocirúrgica, no entanto, com organização, algoritmos claros, listas de verificação e planejamento de contingência, é possível fornecer cuidados neurocirúrgicos focados durante essa pandemia